terça-feira, 1 de abril de 2008

O Tesouro

Os três irmãos de Medranhos, Rui, Guanes e Rostabal, eram então, em todo o reino das Astúrias, os fidalgos mais remendados.
Em Paços de Medranhos, a que o vento da serra levara vidraça e telha, passavam eles as tardes desse Inverno, engelhados nos seus de camelâo, batendo as solas rotas as lajes da sozinha, a frente da lareira negra onde deste não estalava lume, nem fervia a panela de ferro.
Na mata de Roquelanes a espirar pegadas de caça e a apanhar tortulhos entre os robles, enquanto três éguas pastavam a relva nova de Abril.
Os três irmãos mergulhando furiosamente as mãos no ouro, estalaram a rir, num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam
Rui que era gordo e ruivo e o mais avisado, ergueu os braços como um árbitro,
Guanes era o mais leve devia trotar para a vila vizinha de Retortilho, levando já o ouro na bolsinha e Rostabal, o homem mais alto que um pinheiro, de longa guedelha e com uma barba que lhe caía desde os olhos raiados de sangue até à fivela do cinturão.
O cofre tinha três chaves. Guanes disse que queria a sua chave.
Guanes aliviado saltou na égua, meteu pela vereda de olmos, a caminho de Rotortilho, atirando aos ramos a sua cantiga costumada e dolente:
«Olé! Olé!
Sal ela cruz de la iglesia,
Vestida de negro luto…»
Os argumentos utilizados por Rui para convencer Rostabal a matar Guanes:
Guanes estivera para não ir com eles a mata, o ouro dele iria ser mal gasto («com refiões aos dados, pelos tabernas»), se fosse Guanes a descobrir o tesouro não o repartaria, Guanes está doente e pouca durará(«Não dura até as outras neves»), a parte dele faz-les falta para construir a casa e para Rostabal puder ter tudo a que tem direito por ser o mais velho dos três.
O desfecho do conto os três irmãos mataram-se uns aos outros e o tesouro ainda lá estava na mata de Roquelanes.



O título de um conto de Eça de Queirós, que surge dividido em três sequências.















Liliana Martins 9ª3 N:11

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